Para ler ouvindo o mundo.
(Por Eliza Viana, a amiga dela. Além de mim.)
Lambo,
devoro,
mastigo
o mundo,
as carnes,
os gostos,
os cheiros
que me passam pela garganta
pouco depois.
Às vezes engasgo,
cuspo,
vomito.
Noutras passa direto.
As enzimas e sucos
me seguram no estômago
as rimas que engulo.
De um jeito ou de outro
Sempre viram texto,
embora nunca repita as texturas
do que me tece as fibras,
as vísceras, as veias
e o sangue que corre
do sexo à boca
em segundos.
Regurgito palavras mordidas
E escorrem por entre meus dentes
Pedaços de páginas lidas.
Peso o meu corpo nas curvas das rimas
Por cima de mesas, do verso ao reverso.
Defloro francesas
Chupo seus verbos, lambo suas linhas.
Gosto do gosto do roçar das línguas
Levo à boca não os licores
Mas a cachaça-verso, o vinho-poema.
Meu corpo franzino, anti-erudito
Perpassa entre o lirismo das latas de lixo,
No fundo do fundo do fundo do poço
Do pseudo-corpo-oco dos poetas sem paraíso.
Assimetricamente estruturada,
Surjo embriagada de poesia
Beijo Clarices, alicio Leminskis,
e fujo de mim, para estar mais comigo.
E quando o mundo já perde seu brilho (e brio)
Deito a alma-nua, pra regurgitar, tudo outra vez,
No breu qual Caio Frenando Abreu.